segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

O HAVER

Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura
Essa intimidade perfeita com o silêncio
Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo
Perdoai-os! porque ele não tem culpa de ter nascido...

Resta essa imobolidade, essa economia de gestos
Essa inércia cada vez maior diante do Infinito
Essa guagueira infantil de quem quer exprimir o inexprimível
Essa irredutível recusa à poesia não vivida.

Resta esse diágolo cotodiano com a morte, essa curiosidade
Pelo momento a vir, quando, apressada
Ela virá me entreabir a porta como uma velha amante
Mas recuará em véus ao ver-me junto à bem-amada

Resta esse constante esforço para caminhar
Esse eterno levantar-se depois de cada queda
Essa busca de equilíbrio no fio da navalha
Essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo
Infantil de ter pequenas coragens.

Vinicius de Moraes

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